A Fundação Eça de Queiróz despede-se durante este fim de semana do escritor que se inspirou na idílica Casa de Tormes, em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião. Amanhã, "dia 5 de janeiro, a urna contendo os restos mortais de Eça de Queiroz estará em câmara-ardente no átrio principal da Casa de Tormes, perto dos objetos que o rodearam em vida, como a secretária onde escrevia e os livros da sua biblioteca."
Os restos mortais de Eça de Queiroz vão ser trasladados para o Panteão Nacional na quarta-feira, por decisão tomada no Parlamento" em janeiro de 2021 quando, por unanimidade, foi aprovado "um projeto de resolução do PS para conceder honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”. Teve entretanto de ser resolvida uma "contenda judicial com os familiares do escritor que se opunham a esta possibilidade." Depois do processo ir até ao Supremo Tribunal Administrativo, 13 dos "22 bisnetos do escritor," aceitaram "a trasladação para o Panteão Nacional, havendo ainda três abstenções. Também a Fundação Eça de Queiroz se manifestou favorável à trasladação."
"José Maria de Eça de Queiroz nasceu a 25 de novembro de 1845 na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, e "foi autor de contos e romances." A sua vida foi bastante conturbada. Ao que se sabe, José Maria, nasceu "no centro da cidade, em casa de um parente da sua mãe, Francisco Augusto Pereira Soromenho," que era "funcionário aduaneiro da Póvoa de Varzim." Uma vez que "os seus pais não serem então casados (considerado indecente naquela época e naquela classe social), este parente" conseguiu que o pequeno fosse batizado "na Igreja Matriz de Vila do Conde, em vez da matriz local, muito próxima da casa, e fosse ocultado o nome da mãe, por instrução do pai Teixeira de Queiroz," nascido no Brasil em 1820.
Porventura devido ao seu comportamento pouco obediente, José Maria acabaria por ser "entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou até passar para a casa de Verdemilho em Aradas, Aveiro, a casa da sua avó paterna. Nessa altura, foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a Universidade de Coimbra, onde estudou Direito." Foi nesta universidade que conheceu figuras importantes "como Antero de Quental e Teófilo Braga," com os quais viria a integrar a famosa "Geração de 70”.
Em 1866, Eça "licenciou-se em Direito e iniciou uma breve carreira como advogado, mas foi no jornalismo e na literatura que encontrou a sua verdadeira vocação." Os seus primeiros trabalhos foram publicados na revista "Gazeta de Portugal" e, mais tarde, agrupados num livro que seria "publicado postumamente com o título Prosas Bárbaras."
Junto com "Ramalho Ortigão, colaborou em O Mistério da Estrada de Sintra e em As Farpas, criticando a sociedade da época com ironia e acutilância."
Eça de Queirós foi "director do periódico O Distrito de Évora e colaborou em publicações periódicas como a Renascença (1878-1879?), A Imprensa (1885–1891), Ribaltas e gambiarras (1881) e postumamente na Revista de turismo, iniciada em 1916, e na Feira da Ladra (1929-1943). Porém, continuaria a colaborar esporadicamente em jornais e revistas ocasionalmente durante toda a vida. Mais tarde fundaria a Revista de Portugal."
Santa Cruz do Douro, viria a ser o "cenário" inspirador para um dos seus mais conhecidos romances “A Cidade e as Serras”, que tal como A Relíquia (1887) e A Ilustre Casa de Ramires, só seria publicado postumamente. Mas a sua obra literária é muito vasta. Destaque-se "O Crime do Padre Amaro (1875), O Primo Basílio (1878) e Os Maias (1888), onde expôs com crueza os vícios e hipocrisias da sociedade portuguesa." Escreveu também Correspondência de Fradique Mendes e A Capital, obra cuja elaboração foi concluída pelo filho e publicada, postumamente, em 1925. Fradique Mendes, aventureiro fictício imaginado por Eça e Ramalho Ortigão, aparece também no Mistério da Estrada de Sintra."
Em 1870, Eça "ingressou na Administração Pública, sendo nomeado administrador do concelho de Leiria." Seria depois cônsul de Portugal em "Havana, Newcastle, Bristol e, finalmente, em Paris."
Casou com com "Emília de Castro" em 1886 e teve quatro filhos. Faleceu em Paris, "a 16 de agosto de 1900." O seu corpo foi trazido para Lisboa, onde foi sepultado, mas, em 1989, "os seus restos mortais foram transportados do Cemitério do Alto de São João, na capital, para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião."
No Panteão Nacional, para onde seguirão na próxima quarta-feira os restos mortais de Eça de Queirós, encontram-se já "algumas das mais importantes personalidades da história e cultura portuguesa de todos os tempos." No seu interior, podem ser visitados "os Presidentes da República Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, os escritores Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus, a artista Amália Rodrigues, o Marechal Humberto Delgado e Aristides de Sousa Mendes."
Para quem quer ler ou reler algumas das obras queirosianas, dois links que podem visitar e onde as podem encontrar em PDF ou EPUB:
https://aeaveiro.pt/biblioteca/index.php?page=3&id=4
https://esqm.pt/index.php?pg=3&spg=30&sspg=80&id=207
Fontes:
https://jornal-renovacao.pt/2025/01/fundacao-eca-queiroz-homenageia-escritor-da-trasladacao-panteao-nacional/
https://feq.pt/eca-de-queiroz/vida-e-obra/
https://www.panteaonacional.gov.pt/171-2/personalidades-2/
https://pt.wikipedia.org/wiki/E%C3%A7a_de_Queiroz