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Caderno de leitura

Este blogue é sobre o que leio e o que escrevo, duas das minhas grandes paixões e companhias. Para onde vou, tenho de levar sempre um caderno, canetas e, um ou mais livros.

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Caderno de leitura

08
Mar25

Poesia

Mulher que és portuguesa

Elsa Filipe

Mulheres,

filhas, mães, irmãs e avós

Suportam nas costas o peso

Da nação de todos nós.

 

Teresa que deu à luz o príncipe

Grande rei de Portugal,

Foi banida pela sorte,

Excomungada, fugiu à morte

Dona, acusada foi do mal.

Mas a sua vida, fácil não foi

Se ela cresceu num mundo assim...

Queriam que fosse submissa

E ela aprendeu a lutar, 

A ler, a galopar, 

A debater e a governar!

 

Outra mulher da nossa história,

Prometida ainda menina,

Chamaram-lhe santa Isabel

Mas esqueceram que a sua vida 

Foi dura, foi cruel.

O pão deu ao povo pobre 

E alguém bondoso encontrou

Que por ela mentiu e a ajudou

A fugir dos grilhões da morte.

 

E aquela de quem nos esquecemos,

Mas que o direito nos fez consagrar

Usando a nosso favor, 

A lei que estava escrita.

Mulheres, podemos votar!

Não nos impeçam, que sabemos

Para isso, queremos estudar!

Temos todas de a recordar, 

Carolina de seu nome,

Não desistam meninas,

Estudem! É hora de lutar!

 

E a Primeira-ministra portuguesa

Alguém sabe de quem falo?

Maria, de seu nome

Deu-nos porém a certeza

De termos apoio social.

Engenheira, como poucas

De profissão arriscariam

Abriu portas na política,

A outras que se seguiriam.

 

Cientistas, poetisas

Escritoras, astronautas.

Seguem os sonhos, astutas

Pegam em armas, conduzem

Um carro, ou um país

Não são mais que nenhum homem,

Mas menos não podem ser.

Pois não podemos esquecer 

Que nelas se fecunda a semente

Que faz a Nação crescer!

Elsa Filipe

01
Mar25

"A Rapariga sem Nome"

Elsa Filipe

Saindo um pouco para outro tipo de leitura, desta vez escolhi Leslie Wolfe e um thriller. Esta escritora, sobre a qual tenho lido vários elogios, acabou mesmo por me surpreender. "A Rapariga sem nome" é um livro acerca de um hediondo crime, que faz levantar a suspeita de que andará nas ruas um serial killer. 

Numa escrita fluída e bastante expressiva, com bons diálogos que intervalam com pensamentos mais profundos, é-nos dada a conhecer a personagem principal. Tess é uma investigadora do FBI que tem os seus próprios fantasmas a atormentá-la diariamente, tentando em vão, esconder através de uma atitude desafiadora, as suas prdóprias fragilidades. Sem entrar em grandes pormenores, posso apenas dizer que Tess compreende perfeitamente o que é estar no lugar da vítima.

Tess é rápida e de pensamento fluído, mas não consegue trabalhar em equipa, pois tem uma mancha negra no seu passado que a faz pensar constantemente que  é culpada pela morte do seu antigo colega. A sua perspicácia é difícil de acompanhar por aqueles que a rodeiam, sendo uma mulher bastante difícil de acompanhar, temperamental, com métodos mais arriscados do que inovadores.

Os crimes são descritos de forma surpreendente e (quase) demasiado pormenorizadamente, mas sem cair na vulgaridade. Apesar de muito cedo na trama haver um suspeito declaradamente concensual, a história não perde de todo o seu interesse. A capa, no entanto, apesar dos pontos em comum com a história (os olhos azuis, a praia...) não reflete a história em si, nem a forma como a vítima é deixada, exposta como se de uma obra de arte se tratasse.

Tenho em vista a leitura de outros livros da autora, pois ao que parece existe uma sequela.

21
Fev25

Dia Internacional da Língua Materna

Elsa Filipe

Numa época em que somos um emaranhado de gentes, nacionalidades, culturas e línguas, importa celebrar o Dia Internacional da Língua Materna. Não a minha, não a vossa, a de todos nós. A língua materna é a nossa primeira ligação a uma família, a uma comunidade. É a doçura de um embalo, o ritmo de uma canção de roda, a lengalenga e a cantilena. É a poesia na voz de uma criança, tentando reproduzir um ditado popular ensinado na casa da avó.

Seja em que língua for, de onde quer que tenham vindo, celebrem a vossa língua. Ela é a vossa pertença, o passado que não se pode deixar fugir. A minha é o Português. Um português salpicado de pexito, dos pregões da minha vila, das canções da (antiga e da Nova) Galé, dos gritos à janela para que fossemos para casa, do samba na avenida banhado em ritmos brasileiros e das cegadas de Alfarim.

"O Dia Internacional da Língua Materna celebra-se, anualmente, a 21 de fevereiro. Este dia foi criado na 30.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), por iniciativa do Bangladesh, em 1999. Foi posteriormente reconhecida pela ONU através da Resolução 56/262 da Assembleia Geral, a 15 de fevereiro de 2002.

Através deste dia, pretende-se sublinhar a importância da diversidade cultural e linguística. Sensibiliza-se, também, para a tolerância, o respeito e a preservação do património cultural e linguístico dos vários povos do mundo."

Este ano, "o tema escolhido para celebrar o dia é «As Línguas São Importantes!», Pretende destacar a urgência de acelerar os progressos em matéria de diversidade linguística para construir um mundo mais inclusivo e sustentável até 2030."

Fontes:

https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-internacional-da-lingua-materna

 

20
Fev25

"A Ruiva de Auschwitz"

Elsa Filipe

Este livro apaixonou-me em primeiro lugar pela sua capa e pelo facto de ser uma história real. Aqui, a personagem principal, Rosie, é-nos apresentada pelas palavras da sua neta, Nechama Birnbaum, numa rarrativa que quase parece um diário pessoal e que nos leva numa viagem ao passado - um passado muito negro e que não queremos que se repita.

Mas podemos também reconhecê-la em "Auschwitz, a voz dos Sobreviventes", documentário transmitido pelo Canal História e em que "44 sobreviventes que pertencem à pequena minoria que sobreviveu ao horror partilham as suas histórias, e as daqueles que nunca regressaram."

Rosie era uma jovem cheia de sonhos, não podia imaginar que a sua vida estava prestes a sofrer uma reviravolta tremenda quando, em 1944, é forçada a abandonar a sua casa e enviada para o mais abominável dos lugares: o campo de morte de Auschwitz. Ela e a irmã Jane são levadas, junto com a mãe e o irmão mais novo para um campo de trabalhos forçados, onde são rebaixadas até à lama, quase à animalidade. Todos os dias assistem a atitudes de malvadez e desprezo pela vida humana, mas não sonham que o pior ainda estará para chegar.

Chegada ao campo de concentração de Auschwitz, logo é separada da mãe e do irmão. O seu belo cabelo ruivo (herança paterna, mas que era quase que considerado como uma maldição), é rapado como o de todas as raparigas que ali entram. O pequeno irmão segue de mão dada com a mãe para uma outra fila e, para quem já leu alguns livros sobre o Holocausto, sabe bem o que isso significa...

Rosie era uma jovem cheia de sonhos, não podia imaginar que a sua vida estava prestes a sofrer uma reviravolta tremenda quando, em 1944, é forçada a abandonar a sua casa e enviada para o mais abominável dos lugares: o campo de morte de Auschwitz. Naquele lugar, ela percebe que a única coisa que os nazis não lhe podem tirar é a capacidade de resistência e, a sua humanidade. Quando todos à sua volta se convencem da iminência da morte, Rosie continua determinada a não se deixar morrer.

Fontes:

https://www.primevideo.com/-/pt_PT/detail/Auschwitz-A-Voz-dos-Sobreviventes/0KCE88TGJAK9QOPVOYJ12KSQZ2

 

13
Fev25

"A Coragem de Cilka"

Elsa Filipe

No seguimento da leitura de "O Tatuador de Auschwitz", li também "A Coragem de Cilka". Desde logo, um livro em que a autora afirma que, ao contrário do primeiro em que a história é quase toda contada pelo próprio protagonista, Lale, neste caso, houve a necessidade de preencher as lacunas com uma história mais ficcionada, embora inspirada em pessoas reais e registos históricos. Cilka, existiu, mas a sua viuda não terá sido exatamente como é contado no romance.

Cilka Klein, tem apenas 16 anos quando em 1942 é levada para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Johann Schwarzhuber, comandante do campo, escolhe-a de entre muitas pela sua beleza e pelos seus longos cabelos que, ao contrário das demais mulheres que os vêem rapados, Cilka vai mantendo. A sua vida no campo acaba por ser, aos olhos de outras prisioneiras, mais leve, mas poucas sabem o que Cilka sofre. Depressa a jovem aprende que, para sobreviver, tem de fazer tudo o que lhe ordenam, mesmo que isso signifique atos que ela nunca faria noutra situação.

Quando se dá a libertação do campo e, ao contrário daquilo que era esperado - ou do que muitos de nós achávamos que tinha acontecido - muitos dos sobreviventes são enviados para Vorkut. Neste campo de trabalhos pesados na Sibéria, perto do círculo polar Ártico, Cilka, condenada pelos russos por ter colaborado com os nazis e de ter cometido o crime de "dormir com o inimigo", volta a ter de lutar pela sua vida. Nesta nova prisão, Cilka é novamente violada e agredida.

No entanto, a "sorte" volta a sorrir-lhe e acaba por encontrar a sua vocação dentro daquele campo. Na sua luta diária pela sobrevivência, ela consegue encontrar verdadeiras amizades entre os muitos inimigos e acaba por ser respeitada. O amor, volta a ser um ponto forte desta história, mas mais do que de amor, este romance relata uma história de dor e de resiliência.

Heather Morris volta a manter que alguns dos factos relatados são reais, mas sabemos que a ficção acontece aqui e ali. Apesar de algumas inconformidades com a realidade (e não sendo isso que eu procurava) é um livro que aconselho e que vale a pena ler. 

08
Fev25

"O Tatuador de Auschwitz"

Elsa Filipe

Depois de ter lido alguns dos melhores livros sobre Auschwitz, resolvi procurar outros livros que falassem sobre esta época histórica. "O Tatuador de Auschwitz" foi um desses livros (junto com o qual veio logo da biblioteca municipal também a sequela "A Coragem de Cilka").

Heather Morris, descreve de forma brilhante a história de um rapaz que em 1942 é levado para Auschwitz e que, de repente, lhe surge a sorte (ou a obrigação) de se tornar no ajudante do tatuador de Auschwitz. O gesto daquele homem, salva-lhe a vida e, quantas vezes a sua vida terá de ser salva, pela sorte ou pelo amor e amizade. Também ele, apesar de lutar pela sua própria vida com uma esperança ténue em sair daquele lugar assombroso, acaba por pôr a sua vida em risco para salvar outros. 

Quando faz aquilo que mais lhe custa - marcar a pele dos outros prisioneiros tal como lhe marcaram a dele - segura o braço de uma jovem, com quem o olhar se cruza. Depois daquele momento, os dois jovens apaixonados, têm de contornar os maiores e mais duros obstáculos para conseguirem estar juntos. Uma história que mostra como o Holocausto, que tantos milhares matou, nunca matou o verdadeiro amor.

Este livro foi escrito a partir de uma conversa que durante três anos juntou Heather Morris ao protagonista e sobrevivente deste drama, Lale Sokolov, um jovem judeu eslovaco. No seu testemunho, Lale conta o seu amor por Gita Furman. Apesar de alguns factos terem sido ficcionados para caberem na história - e das imprecisões que a passagem dos anos traz à memória - este é, além de uma bela história de amor e coragem, um importante relato de um tempo que, se for esquecido, pode a qualquer momento nos voltar para assombrar.

Depois deste, tenho ali um outro que fala de Cilka... uma outra personagem que surge nos relatos de Lale e que acaba por despertar o interesse de Heather Morris.

03
Fev25

"O rapaz do Pijama às Riscas"

Elsa Filipe

Este era um dos livros que eu tinha a aguardar para ler, assim que me fosse possível e, quando peguei nele, li-o em poucas horas...

Bruno é um rapaz de nove anos que vive com os pais e com a irmã em Berlim. Um dia, é-lhe anunciado que irão mudar de casa, devido ao emprego do pai - um comandante que é destacado para Auschwitz. Bruno não entende nada do que se passa e não fica nada satisfeito por abandonar a sua casa e deixar os seus amigos. Mas aos poucos, começa a espreitar pela janela do quarto, na nova casa e, percebe, que há pessoas do lado de lá de uma vedação. Sem nada para fazer, começa a aproximar-se da vedação e é ali que conhece um menino como ele, Shmuel, que por coincidência faz anos exatamente no mesmo dia que ele. Os dois constroem uma relação de amizade, mas continuam separados por algo muito mais denso que a "simples" vedação que está entre os dois. Schmuel é judeu e Bruno é filho de um comandante nazi. Mas para os dois, nada disso interessa.

Todas as pessoas que se encontram do lado de Schmuel têm algo em comum: todas usam todas um pijama às riscas. Os dois amigos conversam através da rede sempre que podem e desenvolvem uma forte amizade. Mas um dia, quando está quase a regressar a Berlim, Bruno aventura-se mais um pouco...

O que mais impressiona neste livro é a forma como toda a situação é vista aos olhos de três crianças diferentes: Bruno, um menino inocente que designa o campo como "quase-vil" e o Fhurer, como "Fúria", sem saber o que está a acontecer mesmo ali ao seu lado; a irmã, um pouco mais velha e que começa aos poucos a entender que a vida é muito mais complicada do que a que assiste dentro da sua bolha protetora; e Schmuel, um menino judeu que se encontra preso no Campo de Auschwitz e que luta por sobreviver. Nenhum dos dois rapazes sabe o que é o ódio.

John Boyne conta-nos uma história bem pesada, adoçada com a inocência da infância. 

Bertrand.pt - O Rapaz do Pijama às Riscas

Na verdade, seria difícil senão quase impossível algo do género ter acontecido. Nem Bruno, aos 9 anos, poderia ser tão inocente que não soubesse quem era Hittler, nem tão pouco os dois poderiam ficar a conversar tanto tempo sem ninguém ter dado conta. Mas o que aqui importa, é a mensagem subliminar que é passada. Um livro que, a ser explorado nas escolas, poderia despertar um interessante debate sobre o tema do Holocausto.

21
Jan25

"D. Teresa - Uma Mulher que Não Abriu Mão do Poder"

Elsa Filipe

Posso começar por dizer que esta é uma das escritoras de que eu mais gosto. A forma como escreve prende desde a priemira página e, por muito grande que o livro seja, não me canso, pelo contrário.

Isabel Stilwell tem uma coleção fantástica de romances históricos e este é o de D. Teresa, mãe de Afonso Henriques. Nas aulas de história, aprendemos apenas que houve quezílias entre mãe e filho, mas este livro conta-nos a história de uma mulher de armas, com a qual acabamos por simpatizar e, não apenas, aquela mãe que se opôs ao filho. D. Teresa é filha do casamento entre Ximena Moniz do Bierzo, de quem herdou os olhos verdes e a astúcia, e de Afonso VI de Leão e Castela. Teresa é uma menina feliz que vive com a mãe e com a irmã, na localidade de Bierzo, mas as duas irmãs são levadas pelo pai, Afonso VI, para o reino de Leão onde passariam a ser educadas por um tia, Urraca que, com firmeza, as tenta preparar para o futuro que as espera.

Além da sua irmã, com quem vivia no Bierzo, Teresa tem ainda uma meia-irmã, também ela de nome Urraca. As duas têm uma relação conturbada desde sempre - uma legítima, a outra não - mas ambas se respeitam. Como era comum naquela época, os casamentos arranjados irão ditar que Teresa case ainda muito nova com o Conde D. Henrique de Borgonha, um nobre francês.

"D. Teresa viveu os primeiros anos do seu casamento em Toledo, mudando-se mais tarde para o Condado Portucalense, território que D. Afonso VI havia doado a título hereditário ao casal, que se estabelece em Guimarães."

Aos 25 anos, a jovem fica viúva, mas não deixa que isso a aflija e continua a governar o que lhe pertence com pulso de ferro, lutando para conseguir a "independência e alargamento do território portucalense."  Em documentos datados de 1116, o Papa Pascoal II reconhece-a como Rainha.

Mulher inteligente, ambiciosa e de grande tenacidade toma sem dificuldade a regência do Condado aquando da morte de seu marido, adotando, desde 1117 o título Regina (rainha) assumindo uma soberania inesperada, facto que origina uma relação problemática com D. Afonso VII, rei de Leão e Castela. Apaixona-se por D. Fernão Peres de Trava, um homem casado que abandona a mulher para a ela se juntar, contra a vontade de muitos nobres e do seu próprio filho. "Esta relação dava uma relativa supremacia às políticas de alianças galaico-portucalenses suscitando algum desconforto naqueles que defendiam uma política de efetiva independência face a Leão e Castela."

Confronta a meia-irmã e rival, Rainha Urraca de Castela, o pai, a igreja Católica, os nobres portucalenses e até mesmo o seu próprio filho D. Afonso Henriques, contra quem acaba por lutar na Batalha de São Mamede, pelo governo do Condado Portucalense. Acaba por ter de fugir, derrotada e traída, refugiando-se "na Galiza, onde viria a falecer em 1130 com cerca de 50 anos."

Da infância, mantém a amizade com Alberto. Um escudeiro, que se tornaria monge e escreveria, com verdade, a sua história. Teresa foi desde sempre ostracizada pela nossa história e Isabel Stilwell vem trazer-nos uma nova visão sobre o papel e a luta desta grande mulher, com quem acabei por simpatizar. Neste livro, acabamos por nos embrenhar nas traições e nos acordos que, afinal, foram responsáveis pela Independência do Condado Portucalense e pela constituição de Portugal como país, no século XII. Se concordamos com o que foi feito, não é isso que aqui está em causa...

Fontes:

https://pacodosduques.gov.pt/monumentos/castelo-de-guimaraes/historia/teresa-de-leao/

 

12
Jan25

"Um homem sem passado"

Elsa Filipe

"Um homem sem passado" foi escrito por Peter May, escocês e ligado durante muitos anos à arte do guionismo e da produção. 

Peter May conta-nos a história de um ex-polícia, Fin Macleod, que regressa à ilha onde nasceu, deixando para trás tudo o que o ligava a Edinburgo. Fin começa a restaurar a antiga quinta dos pais, agora abandonada, enquanto se vai reencontrando com as suas antigas amizades, incluindo Marsaili, a grande paixão de Fin durante a juventude.

Quando um corpo é encontrado por entre a turfa da ilha de Lewis, começa o grande mistério. De quem será aquele cadáver que se encontrava bem conservado e que os investigadores vêm depois a descobrir, apresenta hediondos golpes de esfaqueamento e uma tatuagem de Elvis no seu braço direito?

Os testes de ADN vêm adensar o mistério, uma vez que são descobertos laços de sangue entre o corpo e um dos habitantes da ilha: Tornodo MacDonald, o pai de Marsaili. Tormod é um homem atormentado que tem vindo a perder a memória devido a uma doença degenerativa. A mulher já não o aguenta em casa e expulsa-o, obrigando Marsaili a colocar o pai num lar. Tormod Macdonald, que é agora um homem idoso preso nas garras da demência, sempre afirmou ser filho único, sem qualquer familiar próximo.

Fin é um homem atormentado pela dúvida sobre quem lhe atropelou mortalmente o filho, carregando ainda consigo, o resultado da sua própria falta de habilidade na relação com Marsaili, a sua grande paixão, de quem tem um filho.

Uma história repleta de mentiras e reviravoltas que nos dá a conhecer uma ilha, pequena, mas que de pacata, afinal, pouco tem. É um livro interessante que trás com ele várias questões pelas quais as personagens nos vão levando através das suas memórias, as que se lembram e as que lhes contam num entrançado complexo.

 

 

04
Jan25

Eça de Queiroz a caminho do Panteão Nacional

Elsa Filipe

A Fundação Eça de Queiróz despede-se durante este fim de semana do escritor que se inspirou na idílica Casa de Tormes, em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião. Amanhã, "dia 5 de janeiro, a urna contendo os restos mortais de Eça de Queiroz estará em câmara-ardente no átrio principal da Casa de Tormes, perto dos objetos que o rodearam em vida, como a secretária onde escrevia e os livros da sua biblioteca." 

Os restos mortais de Eça de Queiroz vão ser trasladados para o Panteão Nacional na quarta-feira, por decisão tomada no Parlamento" em janeiro de 2021 quando, por unanimidade, foi aprovado "um projeto de resolução do PS para conceder honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”. Teve entretanto de ser resolvida uma "contenda judicial com os familiares do escritor que se opunham a esta possibilidade." Depois do processo ir até ao Supremo Tribunal Administrativo, 13 dos "22 bisnetos do escritor," aceitaram "a trasladação para o Panteão Nacional, havendo ainda três abstenções. Também a Fundação Eça de Queiroz se manifestou favorável à trasladação."

"José Maria de Eça de Queiroz nasceu a 25 de novembro de 1845 na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, e "foi autor de contos e romances." A sua vida foi bastante conturbada. Ao que se sabe, José Maria, nasceu "no centro da cidade, em casa de um parente da sua mãe, Francisco Augusto Pereira Soromenho," que era "funcionário aduaneiro da Póvoa de Varzim." Uma vez que "os seus pais não serem então casados (considerado indecente naquela época e naquela classe social), este parente" conseguiu que o pequeno fosse batizado "na Igreja Matriz de Vila do Conde, em vez da matriz local, muito próxima da casa, e fosse ocultado o nome da mãe, por instrução do pai Teixeira de Queiroz," nascido no Brasil em 1820.

Porventura devido ao seu comportamento pouco obediente, José Maria acabaria por ser "entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou até passar para a casa de Verdemilho em Aradas, Aveiro, a casa da sua avó paterna. Nessa altura, foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a Universidade de Coimbra, onde estudou Direito." Foi nesta universidade que conheceu figuras importantes "como Antero de Quental e Teófilo Braga," com os quais viria a integrar a famosa "Geração de 70”.

Em 1866, Eça "licenciou-se em Direito e iniciou uma breve carreira como advogado, mas foi no jornalismo e na literatura que encontrou a sua verdadeira vocação." Os seus primeiros trabalhos foram publicados na revista "Gazeta de Portugal" e, mais tarde, agrupados num livro que seria "publicado postumamente com o título Prosas Bárbaras."

Junto com "Ramalho Ortigão, colaborou em O Mistério da Estrada de Sintra e em As Farpas, criticando a sociedade da época com ironia e acutilância." 

Eça de Queirós foi "director do periódico O Distrito de Évora e colaborou em publicações periódicas como a Renascença (1878-1879?), A Imprensa (1885–1891), Ribaltas e gambiarras (1881) e postumamente na Revista de turismo, iniciada em 1916, e na Feira da Ladra (1929-1943). Porém, continuaria a colaborar esporadicamente em jornais e revistas ocasionalmente durante toda a vida. Mais tarde fundaria a Revista de Portugal."

Santa Cruz do Douro, viria a ser o "cenário" inspirador para um dos seus mais conhecidos romances “A Cidade e as Serras”, que tal como A Relíquia (1887) e A Ilustre Casa de Ramires, só seria publicado postumamente. Mas a sua obra literária é muito vasta. Destaque-se "O Crime do Padre Amaro (1875), O Primo Basílio (1878) e Os Maias (1888), onde expôs com crueza os vícios e hipocrisias da sociedade portuguesa." Escreveu também Correspondência de Fradique Mendes e A Capital, obra cuja elaboração foi concluída pelo filho e publicada, postumamente, em 1925. Fradique Mendes, aventureiro fictício imaginado por Eça e Ramalho Ortigão, aparece também no Mistério da Estrada de Sintra."

Em 1870, Eça "ingressou na Administração Pública, sendo nomeado administrador do concelho de Leiria." Seria depois cônsul de Portugal em "Havana, Newcastle, Bristol e, finalmente, em Paris."

Casou com com "Emília de Castro" em 1886 e teve quatro filhos. Faleceu em Paris, "a 16 de agosto de 1900." O seu corpo foi trazido para Lisboa, onde foi sepultado, mas, em 1989, "os seus restos mortais foram transportados do Cemitério do Alto de São João, na capital, para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião."

No Panteão Nacional, para onde seguirão na próxima quarta-feira os restos mortais de Eça de Queirós, encontram-se já "algumas das mais importantes personalidades da história e cultura portuguesa de todos os tempos." No seu interior, podem ser visitados "os Presidentes da República Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, os escritores Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus, a artista Amália Rodrigues, o Marechal Humberto Delgado e Aristides de Sousa Mendes."

Para quem quer ler ou reler algumas das obras queirosianas, dois links que podem visitar e onde as podem encontrar em PDF ou EPUB:

https://aeaveiro.pt/biblioteca/index.php?page=3&id=4

https://esqm.pt/index.php?pg=3&spg=30&sspg=80&id=207

 

Fontes:

https://jornal-renovacao.pt/2025/01/fundacao-eca-queiroz-homenageia-escritor-da-trasladacao-panteao-nacional/

https://feq.pt/eca-de-queiroz/vida-e-obra/

https://www.panteaonacional.gov.pt/171-2/personalidades-2/

https://pt.wikipedia.org/wiki/E%C3%A7a_de_Queiroz

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